Como
aplicação, vamos ao problema de Kepler. Na origem do sistema de coordenadas está
o Sol, de massa
. O vetor
vai do Sol à Terra, de massa
. A força, segundo Newton, é
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(47) |
Como o vetor
é
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(48) |
temos
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(49) |
Usando (30),
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(50) |
e, "dividindo" por
,
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(51) |
onde usamos a notação de Newton: o ponto sobre o símbolo significa sua
derivada no tempo.
A derivada segunda de
não oferece novas dificuldades.
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(52) |
As derivadas dos vetores de base podem facilmente ser calculadas usando
(30)
e (31).
Obtemos:
Levando este resultado a (52),
obtemos
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(55) |
A lei de Newton assume então a forma:
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(56) |
Igualando os coeficientes dos vetores, temos as equações procuradas:
O prosseguimento em direção à obtenção das soluções consiste, em primeiro
lugar, em notar que, multiplicando a segunda, termo a termo, por
, podemos reescrevê-la assim:
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(59) |
que é a mesma coisa que
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(60) |
ou ainda
constante |
(61) |
Não é dificil identificar esta constante (considerando, por exemplo, o
caso particular de órbita circular): trata-se do momento angular por unidade de
massa. Logo, introduzindo a notação
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(62) |
para o momento angular, podemos escrever
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(63) |
Inserindo este resultado em (57) e
remexendo um pouco, obtemos a equação
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(64) |
Resolvendo-se esta equação diferencial para
e usando-a em
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(65) |
podemos determinar
. Isto determina completamente o movimento
(Para um tratamento completo deste problema, veja Sommerfeld, Mechanics, §6, pg.38.)
Vamos fazer uma análise qualitativa do
movimento, usando a equação (64).
Esta equação não contém o ângulo
. Pode ser pensada como a equação de movimento como visto por um
observador que gira junto com a Terra, e só percebe o movimento radial. Como não
é um sistema inercial, devemos estar prontos para achar forças de inércia.
De fato, multiplicando (64) por
, temos
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(66) |
ou seja, a massa vezes a aceleração (neste sistema a única aceleração é a
radial) é igual à força de Newton mais uma força que é zero se o momento angular
for zero. Esta força é chamada de "força
centrífuga", e é uma força de inércia.
Multiplicando termo a termo por
, obtemos
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(67) |
que pode ser escrita assim:
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(68) |
ou seja,
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(69) |
onde
é uma constante. Podemos interpretar esta equação assim: a energia
é constituída da energia cinética
mais a energia potencial, que vem em duas partes: uma atrativa,
e uma repulsiva,
. Denotando por
a soma das duas energias potenciais, temos o seguinte gráfico:
O movimento só é permitido nas regiões onde
, do contrário teríamos energias cinéticas
negativas, o que é impossível. Se o planeta tem energia
como na figura, seu movimento radial se dá entre os dois
pontos em que a linha tracejada corta a curva de
, denotados na figura por
e
. Há então um valor máximo e um mínimo de
, correspondendo ao movimento elíptico com o perihélio e o afélio
sendo, respectivamente,
e
. Notem que, para a reta da energia que tangencia a curva de de
(no seu mínimo), temos um único valor possível
para
: a órbita é circular. Vemos assim que, para um
determinado momento angular fixo, a órbita de menor energia é a órbita circular.
Henrique Fleming (junho de 2004)